Conheces este símbolo?

No passado fim de semana estive de visita a uma amiga de longa data que se encontra actualmente numa clínica de tratamento de toxicodependência e alcoolismo. Um espaço para tratamento de dependências químicas, mas também emocionais, vício do jogo, dependência da internet, distúrbios alimentares (anorexia e bulimia), distúrbios de personalidade (obsessão, compulsão), depressão.

Tenho pensado muito se abordava o assunto ou não. Por aqui fala-se muito dos direitos das mulheres, mas a saúde mental também é um tema importante para mim, e nesse sentido achei que devia abordar o tema das dependências e vícios sem medos.

A clínica que visitei é um local onde vivem viciados que querem mudar.  Um local onde coabitam, onde se reúnem para se ajudarem uns aos outros a manterem-se limpos. De mãos dadas, cada um partilha a sua história, explicando como chegaram até ali, mas essencialmente como e quando se aperceberam que algo tinha de mudar nas suas vidas. Quando tiveram o clique de que a mudança era urgente.

Tive um tio que morreu de overdose, irmão mais novo da minha mãe. Os U2 eram a sua banda favorita e quando fiz 16 anos, cantou-me o “Sweet Sixteen” do Billy Idol à capella, ofereceu-me um blusão de ganga com a bandeira dos USA nas costas, que ainda guardo com imenso carinho. Foi dos Estados Unidos que fugiu para fugir à droga, mas mesmo a viver cá em Portugal a droga apanhou-o novamente. Foi mais forte do que ele.  Não era má pessoa, era essencialmente mau para ele mesmo, mas confessou-me envergonhado que chegou a roubar dinheiro à minha avó para consumir.

Sim, muitos deles já roubaram para consumir. Outros já tiveram acidentes de viação em puro estado de alcoolémia, já viram a morte de perto e perguntam-se como se deixaram chegar a este ponto.

“Eu podia ter matado alguém a conduzir naquele estado. Só aí tive noção de que precisava de ajuda. Só quando cheguei a este ponto”.

É muitas vezes no meio do sentimento de culpa e da vergonha que surge a vontade de mudar e de recuperar. Só não sabem bem como começar, que caminho seguir para essa recuperação.

O símbolo da fotografia é o símbolo dos Narcóticos Anónimos e revela um pouco do caminho para a recuperação. Um dos utentes da clínica que visitei quando fui ver a minha amiga, pediu-me uma camisola com este símbolo ao qual acrescentou o +24 no meio. Por mais 24 horas limpo. É tudo o que querem, tudo o que pedem a cada dia: mais 24 horas de vida, sem vícios.

Quando virem este símbolo, lembrem-se da força hercúlea que uma recuperação destas exige, tanto a nível físico como ao nível da saúde mental. Quando virem alguém com este símbolo tatuado, numa camisola ou partilhado algures, respeitem-no. E se conhecerem alguém em circunstâncias de dependência e vício, não o abandonem. Grande parte da recuperação reside no facto de sentirem que não estão sozinhos.

Para mim vai ser um orgulho imenso fazer esta camisola para o Carlos, e apoiá-lo na sua vitória diária. Apesar de só o ter conhecido naquele dia, torço muito pela sua liberdade e para que seja feliz.

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2023-01-17